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"A queda do Banif poderia ter sido evitada"

O fim de um império multimilionário

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Antiga sede continental do Banif

O banco caiu. Consigo levou o sustento de mais de 2.000 portugueses e das suas famílias. Cinco anos depois, o dia-a-dia de algumas destas pessoas ainda é incerto. O desemprego já não é só uma possibilidade, é só uma questão de tempo.

 

“Desde sempre que quis ser bancário, mais tarde li uma notícia num jornal de um anúncio de emprego e candidatei-me. E foi assim que comecei a trabalhar para o Banif.” Assim conta Jaime*, sentado numa escadaria em Campolide, Lisboa. Umas escadas que pisou milhares de vezes ao longo de 25 anos, na sede de Lisboa do banco. O edifico ainda nasce grandioso por entre a calçada portuguesa, mas os homens e mulheres vestidos de fato já não passam por ali e aquelas paredes albergam agora pequenas lojas.

Mas há pouco mais de 5 anos, em dezembro de 2015, todas as câmaras das televisões nacionais estavam apontadas paraali. Quando o longo cartaz roxo que cobria a lateral do edifício foi retirado para o chão, levou consigo o futuro e os sonhos de milhares de portugueses que lá trabalhavam. E um negócio multimilionário ruiu com eles.

 

“Senti-me sobretudo desiludido e triste” confessa Henrique, um ex-empregado do Banif e colega de Jaime.  “Foram 15 anos de vida profissional intensa, muita camaradagem com muitos colegas, fui passando por várias equipas e vários ambientes. Houve uma grande riqueza de convívio, de contactos, não só profissionais como também pessoais”.

As dificuldades com o Banif começaram quando este e mais quatro bancos nacionais recorreram a um empréstimo, numa tentativa de salvar o banco o Estado Português comprou a maioria das suas ações. Entretanto o Estado procurava um comprador para a sua parte das ações.

Numa noite de Domingo, a TVI reporta que o Banif vai fechar as portas. Milhares de pessoas correram aos balcões para retirarem o dinheiro das suas contas. É calculado que o Banif tenha perdido mil milhões de euros nesta semana. E a proposta de compra nunca apareceu.

Henrique confessa que teria “sido muito difícil” o banco sobreviver, ao que Jaime discorda “a queda do Banif poderia ter sido evitada. Um ano depois do Santander Totta integrar o grupo Banif, tiveram valores positivos em 1 milhão de euros”.

 

 

O Banif foi divido em dois, o “banco bom” e o “banco mau”, como eram apelidados pela imprensa. E 500 pessoas foram despedidas. Alguns foram para o banco bom e encontraram estabilidade num novo patrão espanhol. E os outros, encontram-se na Oitante, uma empresa provisória de gestão de ativos. A Oitante irá eventualmente acabar, e tirar o tapete dos pés do trabalho de uma vida. O futuro é incerto, e a qualquer momento o próximo dia de trabalho pode ser o último. E é esta realidade que Jaime e Henrique vivem todos os dias.

“A empresa está em liquidação e o nosso caminho será que o trabalho chegue ao fim, mas tenho confiança que haverá alguma solução para mim e para os meus colegas.” Henrique* ainda tem esperança e assiste diariamente as recentes manifestações dos lesados dos Banif. “É uma pequena ajuda, é uma forma de pressão pôr a opinião pública deste lado”.

Tanto Henrique como Jaime culpam as administrações pela queda do banco. E Henrique afirma que “o maior beneficiário desta situação é o Santander, tem uma posição dominante e influente no mercado, e numa situação limite acabou por fazer um excelente negócio”.

“Há pessoas que foram enganadas, porque não tinham conhecimentos para este tipo de investimentos. Mas a grande maioria sabia o que estava a fazer e estava bem informada”, confessa Jaime.

E após 5 anos, a tristeza ainda se lê olhar de Jaime, quando regressa pela primeira vez ao seu antigo local de trabalho. Recorda que era sempre o primeiro a chegar e o último a sair, e ri “as senhoras da limpeza já sabiam todos o meu nome, porque chegava antes delas”. O jovem ambicioso que olhava para as janelas azuis ainda não desapareceu. “Vejo o piso em que trabalhava e lembro-me de estar a janela. O último dia de trabalho aqui foi horrível, vi as notícias no fim de semana da resolução do Banif, não sabia o que se estava a passar e era tudo muito confuso. Quando tiraram os letrings, senti-me muito triste, porque fomos nós que o inauguramos, fomos nós que construímos e foi nosso por 25 anos. Ver o edifício agora deixa muitas saudades.”

As saudades nunca vão passar. Assim como o receio do seu futuro que parece cada vez mais incerto.

*Nomes fictícios para proteger a identidade dos entrevistados.

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